Ao longe a cidade parecia calma, do sétimo andar vejo o Rio depois da Baía e parece tão calmo, mesmo com as colinas cobertas de pequenas moradias, a fumaça cobrindo a praça XV. Os único sons que ouvia eram os de barcos passando e a revoada de garças e urubus que criavam o contraste máximo de cores.
Distanciamento pode ser uma tática de análise, livrar-se do stress de estar no meio e espandir a visão, enxergar o todo. Mas isso só funciona em tese pois perde-se todo o senso de integração e as sensações que se criam por estar participando da fisiologia do ambiente se anula quando separa-se do organismo.
Muitas vezes tentamos aplicar a técnica do distanciamento ao cotidiano, queremos uma experiencia extra-corporal que nos explique o caos que se sucessede. Talvez se buscassemos entender o nosso funcionamento dentro do todo, analisar as funções que precisamos desempenhar e procurar por falhas na execução dessas atribuições teríamos a resposta que necessitamos, ou alguma direção a seguir.
"Um bom computador e um carro veloz pra me manter distante de mim", eu ouvi isso numa música e me despertou algo que fazemos quase que inconscientes. Fugimos de nós mesmo, inibimos nossas vontades e necessidade suprimindo-as com materias que possam desviar nossa atenção de nós mesmos, dói menos se pensarmos em outra coisa.
Aplicamos medicações que não passam de placebos, não surtem efeito contra o mal mas no fazem sentir bem pois estamos "sendo medicados". O poder da cura que criamos está ligado a nossa força de negação do problema. Não estou doente, grita nossa mente. Não queremos perceber o problema que nos consome por dentro.
Busquemos então a verdadeira cura, o fim da hemorragia que toma nosso interior. Percebendo o papel que desempenhamos dentro do sistema, e como esse sistema nos influência, nossas conexões com o externo e do mesmo conosco é que, acredito eu, poderemos encontrar novas formas de 'funcionar' nessa grande engenhoca da vida.