24 de ago. de 2005

Incontestável Reticências Rotineiras

Os dias passam e tudo se renova após os cataclismas cotidianos de cada um de nós. As mudanças que nos viram o leme em angulos retos acabam formando um círculo completo e trazendo-nos ao ponto de partida.
O ato de criar algo, partindo de uma imaginação abstracional e congruindo de sentimentos e percepções antepostas ao método torna-se díficil e meticuloso quando não se passa por fatos que nos causem estranheza ou a simples reflexão. A necessidade de um referencial imagético e maior que esse último um referencial perceptivo mostra-se imprescindível na concretização de projeto. Por isso essa busca errante atrás de acontecimentos impactantes que revelem-se como fatos referenciais e experiências produtivas que ajudem à materialização do objetivo projectual.
Com esse pretexto de necessidade de experiências tento analisar cada ínfimo momento até aqui vivido, extraindo de segundos passados algo relevante e se possível avassalador, que reuna em si idéias e sentimentos que possam expressar os desejos do ser humano.
Como o homem gordo no ônibus que ocupa mas da metado do banco ao lado, e durante a longa viagem, adormecido e inconsciente, ronca desesperadamente e serve de entretenimento aos que ao seu lado se dirigem à ceifa diária, absorto de minha realidade passo a tentar buscar dentro de mim mesmo algo que possa entreter aos que assistem esse show de horrores filosóficos que no final de todas as contas não me leva à lugar algum a não ser essa cadeira e meu fiel teclado amarelado.

6 de ago. de 2005

Alguém viu meu cérebro por aí?

Parece-me que nesse último mês quem esteve de férias foi meu raciocínio. Tudo que fiz foi movido pelo instinto, como dormir, comer e dormir novamente, arrisco a dizer que o estado vegetativo não passou longe. Mas apesar disso tudo posso, após esse imenso intervalo, analisar os fatos e tentar concatenar idéias para trazer a discussão os aspectos subliminares da vida.
Nessa minha travessia pelo inócuo portei-me como rélis figurante, passei desapercebido e tornei-me parte de um cenário comum a todos os que ainda respiram nessa planeta moribundo. Despido de minha habitual soberba, escudo contra os inflamados dardos alheios e pseudo intelectualidade, corri por meios medíocres e trafegados pela maioria da população. Mas nunca relapso à minha principal missão: observar.
Sem me ausentar dessa pátria honrosa experimentei o contato com culturas alienígenas, mas não estou me refirindo aos extras mas sim aos intra-terrestres. É espantoso como a atividade laborial pode fazer com que culturas opostas por marcos geográficos, étnicos e religiosos se compreendam tão bem, sem a espectativa de uma possível degladiação.
A importância do filtro decodificador, que não se trata de um ouvido atento ou de uma parlatório lento, mas sim da moeda corrente, mostra-se vital ao entendimento entre as partes e a conclusão do ato comercial. O interesse de ambas as partes por sucesso na troca e obtenção de bens mostrou-me um fator relevante, é necessário um meio comum a todas as culturas para a boa comunicação entre as partes. A matemática simples e intensamente aplicada designa a si própria um papel de linguagem tradutória de interesses e a atenção aos numeros ganha destaque nesse paradigma.
O que intento com essa elocubração entediosa e ressaltar o valor do protagonista de toda a comunicação: o interesse. Nada se move sem que haja interesse em mover algo. Toda a criação foi executada com um único interesse, ou seja, não sejamos tolos e insensatos deduzindo que os fatos acontecem por que tem de acontecer ou por mera fatalidade. A manipulação do meio é feita por aqueles que sabem quais controles usar, e esse é o real poder abicionado por todos os grandes homens da história.
Eu busco intensamente esses controles, a sabedoria de conseguir apertar os botões certos que possam gerar o efeito que pretendo. A maquinação parece malígna, mas o fim é nobre, bem pelo menos para mim. Detestaria citar Maquiavel, mas ainda não inventou-se uma forma de chegar ao fim sem perder alguns peões.